FUTEBOL NO BRASIL – SAIBA O QUE É O PEIXE, A GÁVEA, A FAZENDINHA OU O PACAEMBU

Muita coisa se poderia dizer sobre o futebol brasileiro, mas uma vez que a imprensa desportiva portuguesa pouco ênfase atribui a este campeonato, torna-se difícil a um adepto luso sentir-se cativado pelo futebol daquele país. Assim, o objectivo deste post é facultar a um eventual leitor menos informado, alguma informação simples mas essencial para que se aprecie a realidade do desporto rei num país que tantos jogadores exporta. É a quinta maior nação do mundo e uma inesgotável fonte de talentos. Com uma área quase do tamanho da Europa (excluindo a Rússia, naturalmente), é um país cujos clubes disputam dois campeonatos internos numa só época, além das habituais taças.



A época brasileira inicia-se em Fevereiro com os campeonatos estaduais, seguindo-se o campeonato nacional de futebol. Esta competição, conhecida entre os adeptos como Brasileirão, é uma das mais emotivas e imprevisíveis ligas a nível mundial. É organizada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a sua primeira edição deu-se no (pouco) longínquo ano de 1971. A primeira prova interestadual organizada neste país foi a Taça Brasil, em 1959, durando apenas 9 anos. Em 1967 havia sido criado o Troféu Roberto Gomes Pedrosa, competição que contou apenas com 4 edições, mas que acabou por dar origem ao famigerado Brasileirão.



Uma prova desta dimensão na Europa seria uma espécie de Liga Europeia, recheada a ouro com os principais clubes do velho continente. Teríamos assim grandes clássicos jornada após jornada, doce privilégio de que os torcedores brasileiros usufruem semanalmente.
Em apenas 36 edições (a 37ª edição encontra-se presentemente em disputa), o troféu já foi atribuído a 17 equipas, o que personifica bem a imprevisibilidade da prova. A competição assume ainda maior importância, uma vez que garante aos quatro primeiros classificados uma vaga na Copa Libertadores do ano seguinte (o cobiçado G4). O país dos tricolores coloca ainda um quinto clube na Libertadores, nomeadamente o vencedor da Copa do Brasil.



O país conta com 27 estados distribuídos por 5 regiões: Região Sul, Região Sudeste, Região Centro-Oeste, Região Nordeste (a tal para onde os portugueses tanto gostam de ir de férias) e Região Norte. Na Região Sul, o estado gaúcho destaca-se dos demais, uma vez que é no Rio Grande do Sul (RS) que podemos encontrar uma das maiores rivalidades do futebol brasileiro: Internacional e Grémio, ambos sediados na capital do estado, Porto Alegre.
O Inter apresenta-se no Estádio José Pinheiro Borda (conhecido nos meandros da bola como Beira-Rio), enquanto que o rival tricolor actua no Estádio Olímpico Monumental. Daqui saíram jogadores como Ronaldinho Gaúcho, Anderson, Anderson Polga e Mário Jardel. No Beira-Rio brilharam nomes como Dunga, Falcão, Taffarel e Rochemback. De referir ainda que a camisola do Grémio é considerada por muitos como a mais bonita do mundo.



Contudo, é na Região Sudeste que se encontram as duas maiores metrópoles do país, Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), e naturalmente que isso reflecte-se também no futebol. Ambos os estados emprestaram o nome às respectivas capitais, e em ambas vamos encontrar 4 clubes de renome e de perpétua rivalidade entre si. Santos, São Paulo, Corinthians e Palmeiras partilham os píncaros das rivalidades paulistas. O Santos de Pelé, Diego e Robinho, tem o Estádio Urbano Caldeira como baluarte (o famoso Vila Belmiro), e o próprio clube é muitas vezes referenciado como O Peixe, apesar de a sua mascote ser uma orca.
O São Paulo actua no Estádio Cícero Pompeu de Toledo (conhecido como Morumbi), recinto inaugurado numa partida contra o Sporting Clube de Portugal. Figuras como Kaká, Cafú e Luis Fabiano deixaram aqui a sua marca.
O Corinthians, de onde saíram Liedson e Tevez, tem como reduto o Estádio Alfredo Schürig, vulgarmente conhecido como Fazendinha ou Parque São Jorge. Contudo, o Timão costuma actuar no Pacaembu (Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho), um estádio de lotação superior pertencente à Prefeitura de SP. O seu grande rival paulista é o Palmeiras, antigo emblema de Rivaldo e Roberto Carlos. O verde e o branco palmeirense reúnem-se nas bancadas do Estádio Palestra Itália, acarinhado pela torcida como Parque Antárctica.



No vizinho estado do RJ, outros quatro emblemas escrevem o seu lugar na história. O Flamengo de Bebeto, Zico, e Mozer, é o clube com mais adeptos no Brasil (e no Mundo?). A Gávea, nome pelo qual é conhecido, actua no Estádio Jornalista Mário Filho, o mítico Maracanã, onde actua também o tricolor carioca Fluminense. Até 2003, este clube jogava no seu próprio recinto, o Estádio das Laranjeiras ou Manoel Schwartz, mas deixou de o fazer por motivos de segurança. Das suas hostes fizeram parte Carlos Alberto Torres e Rivelino, dois incontornáveis protagonistas da indestrutível selecção brasileira de 1970.
Outro nome carioca de grande peso no futebol é o Vasco da Gama. Emerson Leão, Romário e Juninho Pernambucano são apenas algumas referências do orgulho vascaíno. Apesar de o seu estádio ter o nome do clube, os adeptos do Vasco referem-se amiúde à sua casa como São Januário.
Os grandes do Rio ficam completos com o Botafogo, clube de Alemão e do lendário Garrincha. O emblema da estrela solitária actua no Estádio Olímpico João Havelange, o popular Engenhão, construído para os jogos Pan-Americanos de 2007.


Ainda na Região Sudeste do Brasil, no estado de Minas Gerais (MG), temos uma outra rivalidade histórica: Cruzeiro e Atlético Mineiro. A capital Belo Horizonte alberga o segundo maior estádio de futebol do país, o Estádio Governador Magalhães Pinto, carinhosamente apelidado de Mineirão pelos adeptos de ambos os lados, uma vez que o recinto é partilhado pelos dois emblemas. Luisão e Ronaldo são algumas das figuras que deixaram saudades nos corações cruzeirenses, enquanto que Mancini, Gilberto Silva e Dadá Maravilha são ainda nomes sonantes nas recordações das massas atleticanas. Como curiosidade, acrescento ainda que o Cruzeiro foi a única equipa do Brasil a conseguir vencer na mesma época, o campeonato estadual, o Brasileirão e a Copa do Brasil.

Sem comentários: